A menina que semeava lágrimas II
— Olá, Alice! — disse o pássaro certo dia, pousando em seu ombro. — Você já se deu conta de que a primavera chegou?
Alice sorriu, olhando para as flores que dançavam ao vento, com suas cores vibrantes e aromas doces.
— Eu sinto isso! — exclamou, com os olhos brilhando. — É como se a vida estivesse me abraçando.
— Exatamente! — respondeu o pássaro, batendo suas asas. — E você, minha amiga, é parte desse renascimento. Suas lágrimas foram como a chuva que nutre a terra, permitindo que essa beleza florescesse.
Alice começou a explorar seus novos sentimentos. A cada lágrima que escorria, ela se lembrava de momentos de alegria, de amor e de paixão. Em vez de se encolher, ela começou a dançar, girando entre as flores, deixando que seus pés tocassem o solo macio.
— Olhe para você! — disse o pássaro, admirado. — Você está cheia de vida!
— Eu me sinto viva! — respondeu Alice, rindo. — Nunca imaginei que chorar pudesse ser tão libertador.
E assim, ela decidiu compartilhar essa nova perspectiva com o mundo. Em vez de se esconder, começou a convidar outras crianças do vilarejo para se juntarem a ela. Organizou encontros sob a árvore que havia crescido a partir de suas lágrimas, onde todos poderiam expressar suas emoções livremente.
— Venham! — ela chamava, com um sorriso contagiante. — Aqui, não precisamos ter medo de sentir. Vamos celebrar a vida!
As crianças, curiosas e intrigadas, começaram a aparecer. E, sob a sombra fresca da árvore, Alice as encorajava a falar sobre suas alegrias e tristezas, suas esperanças e medos. As lágrimas que antes eram vistas como fraqueza agora se tornaram um símbolo de força e conexão.
— Às vezes, sinto que não posso chorar — disse uma menina, olhando para baixo.
— Chorar não é sinal de fraqueza! — Alice respondeu, com gentileza. — É um sinal de que você está viva! Cada lágrima é uma expressão do que você sente. Deixe-as fluir, e veja como isso pode trazer beleza.
E assim, as crianças começaram a se abrir. Os sorrisos se misturavam com lágrimas de alegria, e a árvore, testemunha silenciosa de tudo isso, parecia crescer ainda mais forte.
— Você é uma verdadeira artista, Alice! — exclamou uma das crianças, após uma divertida sessão de histórias e risadas. — Você transforma tudo ao seu redor em algo mágico.
— Eu aprendi que a magia está dentro de nós — respondeu Alice, olhando para o céu. — E que a vida é uma obra de arte que devemos pintar com todas as nossas emoções.
Os encontros se tornaram uma tradição no vilarejo, e a árvore de Alice se tornou um símbolo de união e expressão. Com o tempo, pessoas de outras aldeias começaram a visitá-la, atraídas pela energia única que emanava daquele lugar.
Certa vez, enquanto conversava com o pássaro, Alice se lembrou de um sonho que tivera.
— Lembro-me de ter sonhado com um mundo onde as pessoas conseguem ver a beleza nas lágrimas — disse ela, com um brilho nos olhos. — Um lugar onde a sensibilidade é celebrada.
— Esse mundo existe, Alice! — respondeu o pássaro, com um tilintar de suas asas. — Você está criando isso aqui e agora. Às vezes, precisamos de coragem para nos expressar, mas você já deu esse passo.
E, com isso, Alice percebeu que sua jornada não era apenas sobre suas próprias emoções, mas sobre como elas poderiam tocar a vida dos outros. Ela havia se tornado uma fonte de inspiração.
A cada encontro, Alice se sentia mais forte, mais conectada à natureza e aos seus amigos. E, nas noites tranquilas, enquanto as estrelas brilhavam no céu, ela conversava com seu amigo pássaro sobre seus sonhos e esperanças.
— O que você deseja para o futuro, Alice? — perguntou o pássaro, pousando em sua mão.
— Eu quero continuar a espalhar essa mensagem — respondeu ela, com determinação. — Quero que todos entendam que chorar é uma forma de amar. Que a sensibilidade é uma força, não uma fraqueza.
Com isso, Alice percebeu que, embora suas lágrimas tivessem um papel importante em sua transformação, era sua capacidade de amar e se conectar com os outros que realmente a tornava forte. E, assim, ela seguiu dançando entre as flores, com a certeza de que a vida, com todas as suas emoções, era uma verdadeira obra-prima.
Anamí
Enviado por Anamí em 12/09/2024