Textos

A menina que semeava lágrimas - I
Alice sempre foi uma menina diferente. Enquanto as crianças da sua idade se divertiam em brincadeiras, ela encontrava alegria nas pequenas coisas da vida, como o brilho do sol refletido nas gotas de orvalho ou o canto suave de um pássaro ao amanhecer. Suas emoções eram profundas e intensas, e, por isso, suas lágrimas frequentemente escorriam pelo seu rosto. Mas o que muitos não entendiam era que aquelas lágrimas não eram de tristeza; eram expressões de felicidade, de amor, de uma paixão ardente pela vida.

Num dia ensolarado, enquanto vagava pelo parque, Alice avistou seu amigo de penas coloridas, um pequeno pássaro que sempre a acompanhava. Ele pousou gentilmente em um galho próximo, e ela sorriu, sentindo seu coração aquecer.

— Olá, meu amigo! — disse Alice, com a voz suave como a brisa. — Hoje sinto que a beleza do mundo está prestes a me fazer chorar de novo.

O pássaro inclinou a cabeça, como se compreendesse cada palavra.

— Por que você chora tanto, Alice? — perguntou ele, com um tilintar que soava como uma risada.

— Porque a vida é cheia de cores e sons! — respondeu ela, com os olhos brilhando. — Cada lágrima é uma forma de viver tudo isso intensamente. Mas às vezes, as pessoas não entendem...

O pássaro balançou as asas, como se quisesse encorajá-la.

— As pessoas podem ser cruéis com quem sente demais. Mas você é um espírito livre, e isso é uma bênção. Não se deixe abater, Alice.

Alice respirou fundo, sentindo as palavras do pássaro ecoarem em seu coração. No entanto, à medida que os dias passavam, ela começou a se sentir mais incompreendida. As lágrimas que antes eram suas aliadas tornaram-se um fardo. As pessoas a olharam com pena, chamando-a de sensível, frágil e emotiva. E a verdade era que ela estava cansada. Cansada de ser vista apenas como a menina que chora.

E então, em uma noite silenciosa, Alice decidiu se esconder. A solidão a envolveu como um cobertor pesado, e ela chorou até que suas lágrimas se transformaram em uma poça no chão.

— Eu não aguento mais viver assim! — ela gritou, sua voz ecoando na escuridão. — Por que perco tempo colhendo lágrimas?

Ali, no chão frio, ela se sentiu seca. A vida parecia ter se esgotado, e, por um momento, acreditou que nunca mais seria capaz de sentir. Mas o que ela não sabia era que a natureza tinha seus próprios planos.

Com o passar do tempo, algo mágico começou a acontecer. A terra, antes estéril, começou a se transformar. Brotos verdes romperam a superfície, e flores surgiram em cada canto. Aquela terra que havia absorvido suas lágrimas de desespero agora florescia com vida.

— Olha só, Alice! — o pássaro apareceu novamente, pousando em um dos brotos. — Sua dor se transformou em beleza!

Alice olhou ao redor, maravilhada com o que via. As flores dançavam ao vento, e a grama verdejante parecia sussurrar seu nome.

— Eu nunca imaginei que poderia surgir algo tão lindo a partir da minha tristeza — disse ela, com um sorriso que iluminava seu rosto.

— Cada lágrima que você derramou era uma semente — explicou o pássaro. — Você não apenas sentiu a dor, mas também gerou vida. E agora, você é parte disso tudo.

Alice percebeu que suas emoções não eram um peso, mas sim um dom. Aquela árvore que crescia forte e majestosa era uma representação de sua jornada. Suas raízes profundas se entrelaçavam com suas experiências, e ela era mais forte do que jamais imaginou.

— Eu sou grata — sussurrou Alice, olhando para a árvore que agora era sua amiga e confidente. — Grata por cada lágrima, por cada emoção.

E assim, Alice aprendeu a abraçar suas sensações, sabendo que cada choro, cada riso, cada momento vivido era uma parte fundamental da beleza da vida. Ela não era apenas a menina que chorava; era a mulher que florescia. E até hoje, dizem que aquela árvore é a mais forte que já existiu, resistindo a tempestades.m e queimadas, sempre erguida, com raízes profundas e um coração pulsante de vida.
Anamí
Enviado por Anamí em 12/09/2024
Alterado em 12/09/2024
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.


Comentários