Textos

reticências
acendi um incenso perdido,  
peguei o violão,  
tentei lembrar daqueles acordes  
das músicas improvisadas  
que eu toquei à beira-mar pra você.  
a vista daquela árvore distante,  
as luzes nos meus olhos  
ápice da paz.  

sempre fui fã de memórias  
mas não sou fã de reticências.  
sentir sua falta não é tão agradável,  
prefiro lembrar do seu sumiço,  
da sua falta de maturidade  
e do seu adeus sem sentido.  

tudo bem, vá embora.  
espero que sua felicidade se multiplique.  
escrevi uma música,  
baseada nas noites em que andávamos por aí  
e no jeito que nós cantávamos lovesick,  
dançando e rodopiando pelas ruas  
de um jeito desafinado e sem sincronia.  
todos diziam que nossa união era imbatível.  
mas não era.  
necessidades carnais e sua mania  
de exaltar seu ego nos destruiu.  
as pessoas são imprevisíveis  
e a vida me tirou você.  
ou melhor,  
você me tirou da sua vida.  

meu incenso continua queimando,  
enquanto a memória daqueles dias me assombra,  
ou será que me traz uma nostalgia boa?  
sei lá, tanto faz!  
meu riso continua intacto  
e prefiro acreditar que um dia o destino nos une outra vez.  
prefiro lembrar,  
me renovar, me purificar.  

a segunda coisa mais triste  
da passagem das pessoas pela nossa vida  
é o tempo que demoramos para nos acostumar  
com a presença delas quando atravessam nosso caminho.  
a primeira continua sendo  
o tempo que levamos para nos acostumar  
a caminhar sem elas ao nosso lado.
Anamí
Enviado por Anamí em 02/09/2024
Alterado em 05/09/2024


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