de que adianta apreciar
o intelecto
e ignorar o afeto?

se digo que sou doutor,
um gênio, um crânio,
por mim, você demonstra amor!

se digo que penso em largar tudo
pra ser ator, poeta, trapezista ou escritor
ah, amor! teu desinteresse grita
e em mim, causa dor

foi por mim que você se apaixonou?
ou foi por aquilo que sei?
meu conhecimento não faz de mim
um rei

em mim há dois lados,
porém nenhum
merece ser descartado!

ouve-me se discuto sobre o Estado,
mas se falo em arte de rua,
mantém-se calado

pese na balança
a relevância de tudo
em mim, há um tumulto
que precisa ser compartilhado

por vezes, me calo
pois me ouves se falo sobre
a teoria quântica
mas me esnoba se digo que hoje
conversei com uma planta

o olho brilha se explico
a teoria da relatividade, a crise de 29
e o pensamento de Saussure
mas foge se compartilho algo irrelevante
que me fez rir

ah, amor!
teu desinteresse grita
e em mim, causa dor!

encanta-se quando mostro um retrato
ilude-me se visto um trapo
grande é o descaso...

admira-se  apenas por um lado
desse ser mutável,
misterioso e desvairado.
pra mim chega!
já dizia meu avô:
antes só do que
mal acompanhado.