a morte tem um gosto amargo
eu pensei já estar imune ao episódio
em que minhas pernas tremiam
e meus gritos eram mudos
um olhar de desprezo
foi o suficiente para eu desistir de lutar
nem homem, nem mulher
nem quem prometeu me cuidar
nem um deus
ninguém foi capaz de estar ali
sozinha eu me vi
lutando até o último segundo
contra o que se tornaria
um pesadelo
que como bicho que hiberna
te traz a falsa sensação de segurança
mas que quando desperta
destrói tudo o que está ao redor
eu não consigo respirar
não consigo emitir um som
o desespero de quem me vê
me causa pânico
meu choro interminável
nada mais é que minha alma desaguando
tentando encontrar alívio
a minha mente já desistiu
da carta de alforria
despeça o terapeuta
rasgue  as bulas
jogue fora os terços
quando o inferno se instala
queima tudo ao redor
e os meus olhos
grandes como o tormento
daquele dia calmo
abrigam o que
ninguém é capaz de entender
eu peço perdão
porque meus pedaços se perdem
eu só queria me encontrar
eu peço perdão aos corações partidos
eu só queria amar
como nunca fui amada
peço perdão pelas ausências
eu só queria poder desligar
o que eu tanto tento esquecer
mas o meu cérebro me insiste em lembrar.