Um ciclo esquecido
As tardes deitados no tapete sem dizer uma só palavra e Mahler quebrar o silêncio. Os estudos paralelos e unificações de ideias. As tardes na areia citando as maravilhas do universo. Os dias chuvosos em que os acordes na sua Fender branca causavam êxtase. O aperto forte de mãos nas partes mais emocionantes do filme. O olhar na meia luz. As noites mal dormidas mas bem aproveitadas. O empurrar da cama. O cheiro de cereja na sua camiseta preta no armário. As árvores rabiscadas com o nosso chaveiro de metal. As filosofias sobre uma estratégia governamental e controladora. Os beijos para amenizarem o estado de nervo. As veias saltadas. O abraço no meio da estrada. A divisão da cama, do edredom, da vida. A ânsia por viver a dois. Os ouvidos atentos aos sussurros. O “fica mais um pouco”. O choro compartilhado. As noites acompanhadas de Whisky puro e quente. A arte da improvisação para arrancar um sorriso. Os sonhos conjuntos. Os nossos traços coloridos nos muros, contando uma história entre si. A despedida na rodoviária. O “bom dia” no ouvido. A viagem para Florianópolis onde a água quente do chuveiro não funcionava. Os versos escritos no guardanapo do restaurante. Os rodopios em plena avenida. O “eu te amo” que nunca foi dito. Os telefonemas inesperados, onde se escutava a respiração ofegante do desespero de não saber o que dizer. O ensaio fotográfico em plena paulista. A utopia de querer construir um foguete e se amigar com um nativo lunar e criar uma nova espécie. O voar de pés no chão. Uma dose dividida em dois copos. O medo, de no fim, tudo isso, se tornar só mais um ciclo brevemente esquecido.
Anamí
Enviado por Anamí em 31/05/2023
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